Como na região mais seca da Caatinga há anos em que chove apenas cerca de 300 milímetros por ano - seis vezes menos que na Mata Atlântica ou na Amazônia -, as plantas e animais adaptaram-se de modo a sobreviver com o mínimo de água, sem por isso perder em beleza ou diversidade. As plantas têm folhas pequenas e cascas grossas, que reduzem a perda de água. Nos exemplos extremos, cactos como o mandacaru ( Cereus jamacaru ) e o xique-xique ( Pilosocereus gounellei ) vivem com folhas reduzidas a espinhos. Entre os peixes, pelo menos 25 das 240 espécies identificadas conseguem adiar o nascimento à espera das chuvas: passam a maior parte do tempo na forma de ovos, que só eclodem quando as águas chegam, em algum momento entre fevereiro e maio. Esses peixes - chamados anuais - têm de 5 a 15 centímetros de comprimento e vivem em lagoas ou poças d'água de até 1 metro de diâmetro, que secam durante a estiagem.Mas há tempo para criar uma nova geração.
Antes de a seca chegar, os machos cortejam as fêmeas e as atraem para o fundo dessas pequenas lagoas, revestidas de lama e areia. Em seguida, dão um mergulho na lama, a fêmea solta os ovos e o macho os fecunda. Durante a estação seca, que pode durar quase um ano, o embrião se desenvolve lentamente dentro do ovo, sem romper a casca. "O embrião permanece em uma espécie de hibernação", explica um dos autores do livro, o biólogo Wilson Moreira da Costa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foi nos últimos anos que Costa descobriu amaioria dessas espécies, que os sertanejos chamam de peixes-de-nuvem, por acreditarem que nascem nas nuvens, antes das primeiras chuvas, como se fossem frutos de geração espontânea.
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