Nos anos 1960, Nelson Pereira dos Santos em Vidas Secas e Glauber Rocha em Deus e o Diabo na Terra do Sol apresentaram o sertão nordestino como um ambiente inóspito, seco e quase sem vida, perseguido por um Sol ofuscante. Agora, o mesmo espaço reaparece em Abril Despedaçado , de Walter Salles, e emBaile Perfumado , de Paulo Caldas e Lírio Ferreira. Coincidentemente, emerge também nos domínios da ciência um novo olhar sobre a Caatinga, único ecossistema inteiramente brasileiro - e o menos estudado. Cenário de intricados processos ecológicos, esse ambiente conhecido como sertão - uma área de 800 mil quilômetros quadrados, correspondente a quase metade dos nove estados do Nordeste - revela-se muito mais rico em espécies exclusivas de plantas e animais, como peixes, lagartos, aves e mamíferos, do que se imaginava. Nas 800 páginas do livro Ecologia e Conservação da Caatinga , lançado este mês, um grupo de 35 especialistas do próprio Nordeste e do Sudeste sintetiza os últimos 200 anos de pesquisas, acrescenta as descobertas mais recentes e desfaze de uma vez por todas a noção de que esse ecossistema, onde vivem 20 milhões de pessoas, é homogêneo e desinteressante.